Nellie Bly: uma mulher que mudou o jornalismo
Pionera, audaz e destemida são só algumas das palavras que descrevem esta mulher que foi capaz de estabelecer nova diretrizes para jornalismo investigativo, mudar a legislação e levantar questionamentos sobre o papel da mulher na sociedade. Estou falando da jornalista, industrialista , inventora e filantropista norte americana Elizabeth Jane Cochran, conhecida pelo seu pseudônimo Nellie Bly.
Infância
Filha de um juiz proeminente, Nellie Bly nasceu em 5 de maio de 1864 na Pennsylvania. Desde jovem sempre mostrou ser diferente, aspecto que foi muito incentivado pela mãe. Quando Nellie tinha 6 anos de idade o pai dela faleceu, deixando a família com problemas financieiras. A mãe casou de novo, mas o padastro de Nellie era violento e vivia embriagado. Eventualmente, a mãe não aguentou e se divorciou. Isto fez com que Nellie tomase a decisão de ser independente, se contrapondo aos padrões do papel da mulher na época.
Início de uma carreira brilhante
Após o divórcio a família se mudou para Pittsburgh onde tinha uma pensão. Nellie tinha iniciado seus estudos, mas teve que largar por não ter como continuar financiando. Aos 18 anos, ela leu um editorial no Pittsburgh Dispatch entitulado “Para que servem as mulheres”, que alegava que o único papel das mulheres era cuidar da casa, ter filhos e mulheres que trabalhavam eram monstrosidades. Nellie escreveu uma resposta tão astuta e feroz que impressionou o editor George Madden. Ele ofereceu um emprego a Nellie, o qual a permitiu ter uma plataforma para falar de ideologias sexistas, direitos da mulheres, injustiças sociais e fazer jornalismo investigativo. Os patrocinadores começaram a ter problemas com Nellie e quando ela foi transferida para escrever para seção feminina do jornal, pediu demissão e mudou-se para Nova York.
Consolidação
Aos 23 anos ela se mudou para NY e, após alguns meses, foi contratada para trabalhar para o jornal de New York World, de Joseph Pullitzer. Foi para o New York World que ela iria escrever seu famoso exposé que iria lançar Nellie como jornalista consagrada e celebridade. Um dos primeiros trabalhos que ela teve foi o de investigar o hospício feminino de Blackwell Island, sendo instruída a contar toda a verdade sobre o local. Nellie fingiu ser louca para poder ser acometida ao hospício. Lá ela permaneceu 10 dias sendo torturada, comendo restos de comida estragada e convivendo em um ambiente insalubre e fétido, dominado por excrementos e ratos. Tudo que ela vivenciou foi exposto no jornal, o que levou à indignação da nação. Foi estabelecido uma junto com a participação de Bly onde foram redefinidos as leis para os hospícios. O trabalho dela literalmente redefiniu o jornalismo.
Ao redor do mundo
Mais adiante, Nellie teve a idéia de viajar pelo mundo como no livro de Júlio Verne, “A volta ao mundo em 80 dias”. O jornal achou fantástica a idea, mas desde que fosse feita por um homem. Ter uma mulher viajando sozinha já ia muito além do que as convenções sociais iriam permitir. No entanto, Nellie não se deu por vencida e um ano depois estava a caminho de uma das suas grandes aventuras com só duas malas pequenas. Ela viajou até a França, onde conheceu Júlio Verne e daí prosseguiu viajando pelo mundo. Via telegrama, ela contava sobre as aventuras e, em pouco tempo, virou a febre no país: todo mundo querendo ler sobre suas aventuras. Nellie conseguiu completar a viagem em 72 dias, estabelecendo um novo Record mundial. Apesar de tudo que ela tinha conquistado, o jornal considerou que não era suficiente e se negou a conceder um aumento. Como conseqüência, ela pediu demissão. Porém, três anos depois eles imploraram para ela voltar e ela concedeu voltar baixando seus parâmetros.
Após o mundo
Apesar de ter dito que nunca casaria, ela terminou casando com Roger Seaman, cabeça do Ironclad Manufacturing Industry. Ele tinha 73 e ela 31 quando casaram, mas mesmo assim ela permaneceu trabalhando para o jornal e teve participação ativa na empresa, inclusive patentiando dois designs. Eventualmente, quando o marido faleceu, ela assumiu a presidência, e assim permaneceu por mais ou menos uma década até a empresa falir. E então? Bem, ela voltou para sua paixão, o jornalismo investigativo, escrevendo sobre corrupção, o movimento sufragista e injustiças sociais. Mais adiante, durante a primeira guerra mundial, Nellie se transformou na primeira mulher americana correspondente. Assim ela continuou sua vida até que, em 1922, com apenas 57 anos, ela faleceu de uma pneumonia.
Legado para todos
Em pouco tempo de vida Bly viveu aquilo que muitos sonham, mas poucos têm a coragem e determinação de conquistar. Ela mudou o rumo do jornalismo para sempre, afetando o governo e a política; e mais importante, inspirando as pessoas. Ela mostrou que só basta querer. Sua filosofia de vida pode ser resumida na seguinte frase “I said I could and I would. And I did”, Nellie Bly.
Todos os trabalhos de Nellie Bly foram publicados em livros. Os mais conhecidos sem ser coletâneas são 10 days in the Madhouse, Around the World in 72 days e Six Months in Mexico. Realmente vale a pena dar uma conferida! Infelizmente não existem filmes fidedignos às obras de Nellie Bly, mas há alguns do genero de suspense/ terror inspirados no livro 10 days in the madhouse.