O Teatro é sagrado
A palavra “teatro”, de etimologia grega théatron, significa uma determinada arte, assim como o espaço físico em que essa arte é apresentada. De acordo com a sociologia, ele está intrinsecamente ligado às sociedades primitivas que viam nas danças imitativas um caminho propício ao controle dos fatos sociais indispensáveis para a sobrevivência por meio de poderes sobrenaturais. Por isso, sua semente germinou em meio a heróis e deuses, o que explica sua aura sagrada que reluz até a modernidade.
A arte teatral surgiu na Grécia, por volta do século VI a.C., como desenrolar das festas dionisíacas – Deus do vinho, do teatro e da fertilidade. Fingir ser uma divindade foi o que causou espanto e interesse em meio aos cidadãos das polis gregas e, assim, habemos Tépsis: os primeiros atores da história ocidental, como afirma Margot Berthold, historiadora.
Mais de 15 séculos depois, a inúmeros quilômetros de distância da península grega, o dramaturgo William Shakespeare quebrou padrões ao levar a arte do reino das elites para o povo. Ele escreveu 37 peças, 400 sonetos, atuou como força gravitacional na revolução linguística inglesa e encontrou caminhos de expiar as dores, as mazelas e os amores de seu povo. Em meio à primeira era Elisabetana, – na qual a Inglaterra floresceu e fomentou o orgulho nacional – outros nomes como Christopher Marlowe, Bem Johnson e George Chapman também despontaram e sedimentaram no início dos anos 1600s os Anos Dourados do teatro. Infelizmente, após a revolução de Cromwell, qualquer tipo de entretenimento foi proibido.
Hoje, não por uma questão político-religiosa, mas sanitária, os ingleses, os britânicos, o mundo, têm sido privados de cultuar Dionísio devido à pandemia da COVID-19. O ritual preparatório para assistir à uma peça – tão importante como a peça em si – como jantar, tomar um vinho ou um café, conversar com amigos e, por que não, pós-apresentação, com mais um pint de cerveja no pub, está em coma.
Contudo, há uma possibilidade de você ressignificar esse rito na sua casa, respeitando a necessidade de distanciamento físico, mas abrindo-se e conectando-se à aproximação do culto dionisíaco. Por exemplo, o Royal National Theatre, associação criada pós II Guerra Mundial em Londres, disponibiliza uma lista considerável de peças imperdíveis, com nomes
de peso da dramaturgia e produções excepcionais no seu site, bastando você inscrever-se a uma taxa de 9,99 libras ao mês. Dado o contexto sanitário impeditivo em que nos encontramos, essa é uma boa saída para você se reconstruir, se reinventar como amante da arte, como amante de Dionísio e produzir um novo roteiro de como a arte pode fazer parte da sua vida.
Então, que tal assistir à “Amadeus”, “Othello”, “Cat on a hot Tin Roof” ou até o belíssimo e aclamado “War Horse” acompanhado – ou não – de quem você gosta, do conforto de sua casa? Tão sagrado é o teatro, que, mesmo não estando presente em sua “igreja”, a sua palavra toca você espectador, ainda que como telespectador.
Site do National Theatre: https://www.nationaltheatre.org.uk/ntathome