Laverne cox: voz para as pessoas trans
Trailblazer! É uma das palavras que melhor define Laverne Cox. Seu mérito não vem
só por ter sido a primeira em várias instâncias, mas pela sua resiliência em lutar contra
a conformidade, determinação de se manter verdadeira com ela mesma e vontade de
prestar sua voz e história de vida por uma causa considerada pela Time Magazine
como a próxima fronteira da luta pelos direitos civis. Estamos falando nada mais nada
menos que da luta da comunidade transgênero.
Cox nasceu em 29 de maio de 1979, em Mobile, Alabama. O mundo de Cox quando
jovem era seu irmão gêmeo, sua mãe que era professora, e sua avó. Desde pequena,
ela sempre se identificou com o gênero feminino e via isso com maior naturalidade,
além de ter uma grande paixão pela arte; em especial, pela dança. Ela implorou para
sua mãe deixá-la fazer dança e a mãe topou, desde que não fosse ballet, por ser
considerado então muito feminino. Aos 8 anos ela início seus estudos de dança,
focando mais no Jazz.
Cox sofreu muita discriminação, bullying, assédio e humilhação durante sua infância
por ser considerada afeminada. Essa foi sua realidade diária por muitos anos. Ela vivia
no constante medo e ameaça de apanhar, até que, aos 11 anos, tentou suicídio, não
só pelo contexto diário de violência, mas também pela vergonha que sentia de não
conseguir se encaixar dentro das normas determinadas. No entanto, ela encontrou
força para continuar através da dança e creative writing.
Aos poucos, as coisas foram melhorando, e ela recebeu uma bolsa para estudar no
Alabama School of Fine Arts, um internato cujo foco era nas artes. Lá ela realizou seu
sonho de estudar ballet pela primeira vez. Ao se formar, recebeu uma bolsa para a
Indiana University, em Bloomington, e depois transferiu-se para o Marymount
Manhattan College, onde recebeu um BFA em dança.
Os anos de faculdade foram de muita importância para Cox, em especial quando se
mudou para Nova York. Ela tinha criado um melhor entendimento sobre quem ela era
e o que ela queria, além de ter outras oportunidades. A atuação veio como uma
casualidade. Um dia ela estava na faculdade quando foi avistada por um professor de
artes cênicas que achou que ela seria perfeita para uma peça que estavam montando.
Ele tinha razão. Ela foi vislumbrante e daí para frente participou em diversas
produções tanto da faculdade como fora. No entanto, a mudança maior na faculdade
foi sua decisão de iniciar sua transição, dado que cada vez mais ela estava vivendo e
se identificando como mulher. Durante esse processo de transição, ela atuou em
vários shows de drag queen, apesar de não se identificar como uma tal, mas sim como
esta ser uma maneira de continuar tendo vínculo com o mundo da performance.
Após sua transição, ela continuou atuando e participando de vários papéis e testes,
mas ainda não se sentia confortável em ser trans, a ponto de omitir esta informação.
Tudo mudou em 2007, quando Candis Cayne (atriz transgênera) fez história com seu
papel de Carmelita, uma amante trans no drama Dirty Sexy Money, da ABC. Foi um
momento decisivo para Cox. No dia seguinte, ela mandou fazer 500 postcards com
sua foto e o lema “Laverne Cox, the answer to all acting gigs” e distribuiu para pessoas
da indústria. Foi assim que ela conheceu Paul Hilepo, que é seu empresário até hoje.
Depois disso, ela teve papéis em Law e Ordem, considerado um rito de passagem
para todo ator de Nova York, Bored to Death da HBO, I wanna Work for Diddy, um
reality show, e TRANSform me, da VH1. Sua grande oportunidade veio em 2012,
quando conseguiu um dos papéis principais de Orange is The New Black, onde
interpretou Sophia Burset, uma mulher trans que tinha roubado para pode pagar pelo
seu tratamento de transição.
A partir daí a vida de Cox tem se transformado em uma coleção de “Firsts”. Ela foi a
primeira mulher trans de cor a estar em papel principal em um programa de TV
mainstream; a primeira mulher trans a ganhar um Emmy pela produção do
documentário T-Word, que explora a realidade e medo das pessoas da comunidade
trans. Além disso, foi a primeira mulher trans a ser a capa das revistas Time, British
Vogue, Cosmopolitan e Essence; e a primeira mulher trans a ganhar uma estátua de
cera no Madame Tussauds. Em 2014, Cox foi considerada a mulher do ano pela
revista Glamour. Além disso, já foi nomeada para 4 Emmys e ganhou 2 Sag Awards,
entre outras tantas premiações.
Ainda assim, o papel mais importante de Cox vem sendo o de ativista pelos direitos
trans. Ela enxerga que é uma responsabilidade enorme que tem e que não
necessariamente gostaria de ter que carregar esse peso. Mas também enxerga o
papel que os grupos marginalizados possuem em educar. Sendo assim, ela empresta
sua voz para educar as pessoas, tornar natural a discussão de gênero, trazer inclusão
e igualdade e mostrar para as pessoas que antes de tudo, elas têm uma obrigação
consigo mesmas em se aceitar e ser verdadeiros com si.