Ngozi Okonjo-Iweala: uma história que poderia ser sua e de tantas mulheres
Afável, amigável, pé no chão, trabalhadora, disciplinada, focada e
dura são algumas das formas como Ngozi Okonjo-Iweala já foi
descrita. Neste mês de março, escolhemos falar dela não só para
abordar tantas barreiras presentes em sua carreira de mais de 25
anos, mas também para mostrar sua luta contra a corrupção e sua
incansável busca pela igualdade de gênero.
Sua história começou em 1954, numa Nigeria que ainda se
encontrava baixo o colonialismo britânico. O pai dela, Chukwuka
Benjamin Okonjo, era Obi (rei), da Família Real de Obahai de
Ogwashi-Ukwu e foi professor de economia e matemática. Quando
pequena, seus pais foram para Alemanhã estudar e ela foi morar com
a avó. Apesar de amorosa, a avó também era bastante dura, período
da vida dela onde aprendeu muito disciplina e foco. Igual às outras
crianças ela tinha que pegar água do rio, cuidar da casa, ajudar na
fazenda e estudar na escola.
Depois, sua história continuou durante a guerra Civil da Nigéria,
também conhecida como guerra de Biafran, que durou cerca de 3
anos e devastou boa parte da população. Mais de 3 milhões de
pessoas faleceram como conseqüência não só da guerra, mas
também de fome e doenças. Foi durante estes anos que ela aprendeu
a ser dura e analítica. Sua família perdeu tudo durante a guerra, só
tinham um ao outro e enquanto o pai lutava, ela e sua mãe
trabalhavam proporcionando comida para as tropas.
Durante este tempo, sua determinação e sagacidade foram colocados
em teste. Sua irmã mais nova que tinha 3 anos de idade estava na
beira da morte após contrair malária. Ngozi ouviu falar de um médico
que estava atendendo em uma igreja a 10 km de distância e sem
pensar duas vezes, colocou a irmã nas costas e andou os 10 km. Ao
chegar lá, se deparou com milhares de pessoas atrás de tratamento
também, desesperadamente suplicando que abrissem as portas. Ela
conseguiu passar pelo meio das pernas das pessoas, e subir por uma
janela pequena que se encontrava ao lado da igreja. A irmã foi
reidratada e injetada com cloroquina. Uma vez fora de perigo, Ngozi
colocou a irmã nas costas de novo e caminhou os 10 km de volta.
Após a guerra civil, a família se reergueu e ela deu continuidade aos
seus estudos. Na escola ela sempre gostou muito de geografia, o que
a levou a decidir estudar a área na universidade de Cambridge, na
Inglaterra. Porém, a família mudou de planos e foram para Harvard.
Uma vez lá, ela descobriu que Harvard não tinha o curso de geografia
e foi aconselhada a estudar economia, o curso que mais se aproximava ao que ela queria. Ela resolveu aceitar o destino e se formou Magna Cum Laude em 1976, e depois obteve um PhD em economia regional pela MIT. Isto seria o início da sua brilhante carreira.
Em 1982, ela entra no Banco Mundial e construiu uma carreira de
mais de 25 anos onde chegou a ser a primeira mulher a ocupar um
dos cargos mais altos do banco ( 2007- 2011). Além disso, foi a
primeira mulher a assumir a posição de ministro das finanças da
Nigéria ( 2003 – 2006, 2011 – 2015) e a única pessoa a ter tido esse
posto duas vezes e durante dois governos. Durante este tempo, ela
se dedicou a combater a corrupção, procurar transparência
financeira, aumentar o número de empresas lideradas por mulheres
dentro do setor privado, instituir reformas para aumentar os
investimentos estrangeiros, entre tantas outras medidas.
Infelizmente nem todos compartilhavam de sua visão e sua mãe
chegou a ser seqüestrada em meio a este conflito. Em troca pela vida
da mãe pediram sua renúncia. Ela não aceitou e eventualmente sua
mãe foi solta. Vale ressaltar que ela conquistou tudo isso enquanto
criava 4 filhos, que eventualmente seguiram os passos da mãe e
estudaram em Harvard posteriormente.
Ela ainda faz parte da diretoria do Stantard Chartered Bank, Twitter,
Global Alliance for Vaccine and Immunization e da ARC(African Risk
Capacity). Sua genialidade, determinação e olhar de mundo fizeram
com que, as 66 anos, no dia 1• de março de 2021, ela se tornasse
não só a primeira mulher, mas a primeira africana a comandar a OMC
(Organização Mundial do Comércio). É incrível ver o quanto ela viveu
em tão pouco tempo e tudo que ela conseguiu conquistar. A vida não
foi fácil para Ngozi, mas ela soube tirar ensinamentos das suas
adversidades e trilhar seu próprio caminho firme e sem medo. Ela nos
mostra que não existe limite para nossas conquistas e que gênero
jamais deveria nos incapacitar de chegar onde queremos.